segunda-feira, 8 de julho de 2013

PERFUMES - UMA QUÍMICA INESQUECÍVEL


Os perfumes têm sido parte da vida civilizada há vários séculos, tanto para os homens como para as mulheres. Todos nós temos preferências por determinados aromas, os quais podem nos mudar o humor ou suscitar emoções.
Provavelmente o mais primitivo dos nossos sentidos, o olfato tem a capacidade de nos recordar experiências passadas. As mensagens olfativas são enviadas para áreas do cérebro associadas à emoção, à criatividade e à memória.
Mas, afinal de contas, o que é um perfume? O que ele contém?
A fragrância de um perfume é um complexo sistema de substâncias originalmente extraídas de algumas plantas tropicais ou de alguns animais selvagens. Recentemente, o perigo de extinção de certas espécies vegetais e animais e a busca de novas essências, inclusive de menor custo, conduziu a química dos perfumes aos laboratórios, onde são criados os produtos sintéticos que têm substituído paulatinamente os aromas naturais.
Outro aspecto curioso é que as fragrâncias que encontramos em detergentes, amaciantes e produtos de limpeza são, com frequência, as mesmas usadas na fabricação de perfumes.
Do ponto de vista da química, o que realmente caracteriza uma fragrância? A resposta a essa pergunta nos conduz a uma curiosa viagem pelo mundo das moléculas voláteis.

Um pouco de história

Os primeiros perfumes surgiram provavelmente associados a atos religiosos, há mais ou menos 800 mil anos, quando o homem descobriu o fogo. Os deuses eram homenageados
com a oferenda de fumaça proveniente da queima de madeira e de folhas secas. Essa prática foi posteriormente incorporada pelos sacerdotes dos mais diversos cultos, que utilizavam
folhas, madeira e materiais de origem animal como incenso, na crença de que a fumaça com cheiro adocicado levaria suas preces para os deuses.
Daí o termo ‘perfume’ originar-se das palavras latinas per (que significa origem de) e fumare (fumaça). O passo seguinte na evolução do emprego dos aromas foi sua apropriação pelas pessoas, para o uso particular, algo que provavelmente aconteceu entre os egípcios.
Um avanço posterior foi a descoberta de que certas flores e outros materiais vegetais e animais, quando imersos em gordura ou óleo, deixavam nestes uma parte de seu princípio
odorífero. Assim eram fabricados os ungüentos e os perfumes mencionados na Bíblia.
A arte de extração de perfumes foi bastante aprimorada pelos árabes há cerca de mil anos. Eles faziam essas extrações a partir de flores maceradas, geralmente em água, obtendo ‘água
de rosas’ e ‘água de violetas’, dentre outras.Com o advento do cristianismo, o uso dos perfumes como aditivo ao corpo foi banido, uma vez que estava associado a rituais pagãos. Os árabes, no entanto, cuja religião não impunha as
mesmas restrições, foram os responsáveis pela perpetuação de seu uso. O ressurgimento da perfumaria no Ocidente deveu-se aos mercadores que viajavam às Índias em busca de especiarias.
Uma outra contribuição significativa foi a das Cruzadas: retornando à Europa, os cruzados trouxeram toda a arte e a habilidade da perfumaria oriental, além de informações relacionadas às fontes de gomas, óleos e substâncias odoríferas exóticas como jasmim, ilangue-ilangue,
almíscar e sândalo. Já no final do século XIII, Paris tornara-se a capital mundial do perfume. Até hoje, muitos dos melhores perfumes provêm da França. Já as águas de colônia clássicas têm menos de 200 anos, sendo originárias da cidade de Colônia, na Alemanha.
Componentes básicos de um perfume
Um perfume é, por definição, um material — porção de matéria com mais de uma substância.  A análise química dos perfumes mostra que eles são uma complexa mistura de compostos
orgânicos denominada fragrância (odores básicos). Inicialmente, as fragrâncias eram classificadas de acordo com sua origem. Por exemplo: a fragrância floral consistia no óleo
obtido de flores tais como a rosa, jasmim, lilás etc. A fragrância verde era constituída de óleos extraídos de árvores e arbustos, como o eucalipto, o pinho, o citrus, a alfazema, a cânfora
etc. A fragrância animal consistia em óleos obtidos a partir do veado almiscareiro (almíscar), do gato de algália (algália), do castor (castóreo) etc. A fragrância amadeirada continha extra extratos de raízes, de cascas de árvores e de troncos, como por exemplo, do cedro e do sândalo.
O sistema moderno de classificação das fragrâncias engloba um total de 14 grupos,  organizados segundo a volatilidade de seus componentes: cítrica (limão), lavanda, ervas (hortelã), aldeídica, verde (jacinto), frutas (pêssego), florais (jasmim), especiarias
(cravo), madeira (sândalo), couro (resina de vidoeiro), animal (algália), almíscar, âmbar (incenso) e baunilha.
Os perfumes têm em sua composição uma combinação de fragrâncias distribuídas segundo o que os perfumistas denominam de notas de um perfume. Assim, um bom perfume possui três
notas:
Nota superior (ou cabeça do perfume): é a parte mais volátil do perfume e a que detectamos
primeiro, geralmente nos primeiros 15 minutos de evaporação.
Nota do meio (ou coração do perfume): é a parte intermediária do perfume, e leva um tempo maior para ser percebida, de três a quatro horas.
Nota de fundo (ou base do perfume): é a parte menos volátil, geralmente leva de quatro a cinco horas para ser percebida. É também denominada ‘fixador’ do perfume. A esta fragrância estão associadas, segundo os perfumistas, as emoções fortes e a sugestão de experiências como encontros sexuais e mensagens eróticas.

Curiosidades sobre perfumes

• A paixão pelos perfumes alcançou seu auge nas cortes francesas do século XVIII, quando Luís XV decretou que para cada dia da semana deveria haver uma fragrância diferente na corte. Madame Pompadour (1721-1764) teria gasto o equivalente a R$250 000,00 em perfumes.
• Arqueólogos que abriram o túmulo do faraó Tutankhamon em 1922 encontraram vasos com um óleo perfumado conhecido como Kiphi. Após 3 300 anos, traços do aroma ainda puderam ser detectados.
• O ano de 1900 representou o auge no comércio do óleo de almíscar (musk), quando cerca de 1 400 kg do óleo foram coletados, causando a morte de 50 mil animais.
 • Atualmente, o comércio mundial do óleo de almíscar natural é limitado a 300 kg por ano, o que ainda representa a morte para alguns milhares de veados almiscareiros.
• O óleo de jasmim natural custa cerca de R$5 000,00 por quilograma. A mesma quantidade da fragrância artificial chega a custar R$5,00.
• São necessárias cinco toneladas de rosas para se obter um quilograma de óleo essencial.
• É famosa a carta que Napoleão escreveu a Josefina dois meses antes de retornar: “Pare de tomar banho! Estou voltando!”
• O profeta e fundador do islamismo, Maomé, acreditava  no poder dos perfumes e, segundo
dizem, teria afirmado certa vez: “Três coisas são importantes para mim na Terra: mulheres, perfumes e orações.” Numa outra ocasião, teria dito: “O perfume é o alimento que nutre meus pensamentos.”

• Um quilograma de óleo essencial de jasmim requer para ser obtido cerca de oito milhões de flores.

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