Os perfumes têm
sido parte da vida civilizada há vários séculos, tanto para os homens como para
as mulheres. Todos nós temos preferências por determinados aromas, os quais
podem nos mudar o humor ou suscitar emoções.
Provavelmente o
mais primitivo dos nossos sentidos, o olfato tem a capacidade de nos recordar
experiências passadas. As mensagens olfativas são enviadas para áreas do
cérebro associadas à emoção, à criatividade e à memória.
Mas, afinal de
contas, o que é um perfume? O que ele contém?
A fragrância de
um perfume é um complexo sistema de substâncias originalmente extraídas de
algumas plantas tropicais ou de alguns animais selvagens. Recentemente, o
perigo de extinção de certas espécies vegetais e animais e a busca de novas
essências, inclusive de menor custo, conduziu a química dos perfumes aos
laboratórios, onde são criados os produtos sintéticos que têm substituído paulatinamente
os aromas naturais.
Outro aspecto
curioso é que as fragrâncias que encontramos em detergentes, amaciantes e
produtos de limpeza são, com frequência, as mesmas usadas na fabricação de
perfumes.
Do ponto de
vista da química, o que realmente caracteriza uma fragrância? A resposta a essa
pergunta nos conduz a uma curiosa viagem pelo mundo das moléculas voláteis.
Um pouco de história
Os primeiros
perfumes surgiram provavelmente associados a atos religiosos, há mais ou menos
800 mil anos, quando o homem descobriu o fogo. Os deuses eram homenageados
com a oferenda
de fumaça proveniente da queima de madeira e de folhas secas. Essa prática foi
posteriormente incorporada pelos sacerdotes dos mais diversos cultos, que
utilizavam
folhas, madeira
e materiais de origem animal como incenso, na crença de que a fumaça com cheiro
adocicado levaria suas preces para os deuses.
Daí o termo
‘perfume’ originar-se das palavras latinas per (que significa origem de) e
fumare (fumaça). O passo seguinte na evolução do emprego dos aromas foi sua
apropriação pelas pessoas, para o uso particular, algo que provavelmente
aconteceu entre os egípcios.
Um avanço
posterior foi a descoberta de que certas flores e outros materiais vegetais e
animais, quando imersos em gordura ou óleo, deixavam nestes uma parte de seu
princípio
odorífero. Assim
eram fabricados os ungüentos e os perfumes mencionados na Bíblia.
A arte de
extração de perfumes foi bastante aprimorada pelos árabes há cerca de mil anos.
Eles faziam essas extrações a partir de flores maceradas, geralmente em água,
obtendo ‘água
de rosas’ e
‘água de violetas’, dentre outras.Com o advento do cristianismo, o uso dos
perfumes como aditivo ao corpo foi banido, uma vez que estava associado a
rituais pagãos. Os árabes, no entanto, cuja religião não impunha as
mesmas
restrições, foram os responsáveis pela perpetuação de seu uso. O ressurgimento
da perfumaria no Ocidente deveu-se aos mercadores que viajavam às Índias em
busca de especiarias.
Uma outra
contribuição significativa foi a das Cruzadas: retornando à Europa, os cruzados
trouxeram toda a arte e a habilidade da perfumaria oriental, além de
informações relacionadas às fontes de gomas, óleos e substâncias odoríferas exóticas
como jasmim, ilangue-ilangue,
almíscar e
sândalo. Já no final do século XIII, Paris tornara-se a capital mundial do
perfume. Até hoje, muitos dos melhores perfumes provêm da França. Já as águas
de colônia clássicas têm menos de 200 anos, sendo originárias da cidade de
Colônia, na Alemanha.
Componentes
básicos de um perfume
Um perfume é,
por definição, um material — porção de matéria com mais de uma substância. A análise química dos perfumes mostra que eles
são uma complexa mistura de compostos
orgânicos
denominada fragrância (odores básicos). Inicialmente, as fragrâncias eram
classificadas de acordo com sua origem. Por exemplo: a fragrância floral
consistia no óleo
obtido de flores
tais como a rosa, jasmim, lilás etc. A fragrância verde era constituída de
óleos extraídos de árvores e arbustos, como o eucalipto, o pinho, o citrus, a
alfazema, a cânfora
etc. A
fragrância animal consistia em óleos obtidos a partir do veado almiscareiro (almíscar),
do gato de algália (algália), do castor (castóreo) etc. A fragrância amadeirada
continha extra extratos de raízes, de cascas de árvores e de troncos, como por
exemplo, do cedro e do sândalo.
O sistema
moderno de classificação das fragrâncias engloba um total de 14 grupos, organizados segundo a volatilidade de seus
componentes: cítrica (limão), lavanda, ervas (hortelã), aldeídica, verde
(jacinto), frutas (pêssego), florais (jasmim), especiarias
(cravo), madeira
(sândalo), couro (resina de vidoeiro), animal (algália), almíscar, âmbar
(incenso) e baunilha.
Os perfumes têm em
sua composição uma combinação de fragrâncias distribuídas segundo o que os
perfumistas denominam de notas de um perfume. Assim, um bom perfume possui três
notas:
Nota superior
(ou cabeça do perfume): é a parte mais volátil do perfume e a que detectamos
primeiro,
geralmente nos primeiros 15 minutos de evaporação.
Nota do meio (ou
coração do perfume): é a parte intermediária do perfume, e leva um tempo maior
para ser percebida, de três a quatro horas.
Nota de fundo
(ou base do perfume): é a parte menos volátil, geralmente leva de quatro a
cinco horas para ser percebida. É também denominada ‘fixador’ do perfume. A
esta fragrância estão associadas, segundo os perfumistas, as emoções fortes e a
sugestão de experiências como encontros sexuais e mensagens eróticas.
Curiosidades sobre perfumes
• A paixão pelos
perfumes alcançou seu auge nas cortes francesas do século XVIII, quando Luís XV
decretou que para cada dia da semana deveria haver uma fragrância diferente na
corte. Madame Pompadour (1721-1764) teria gasto o equivalente a R$250 000,00 em
perfumes.
• Arqueólogos
que abriram o túmulo do faraó Tutankhamon em 1922 encontraram vasos com um óleo
perfumado conhecido como Kiphi. Após 3 300 anos, traços do aroma ainda puderam
ser detectados.
• O ano de 1900
representou o auge no comércio do óleo de almíscar (musk), quando cerca de 1
400 kg do óleo foram coletados, causando a morte de 50 mil animais.
• Atualmente, o comércio mundial do óleo de
almíscar natural é limitado a 300 kg por ano, o que ainda representa a morte
para alguns milhares de veados almiscareiros.
• O óleo de
jasmim natural custa cerca de R$5 000,00 por quilograma. A mesma quantidade da
fragrância artificial chega a custar R$5,00.
• São
necessárias cinco toneladas de rosas para se obter um quilograma de óleo
essencial.
• É famosa a
carta que Napoleão escreveu a Josefina dois meses antes de retornar: “Pare de
tomar banho! Estou voltando!”
• O profeta e fundador
do islamismo, Maomé, acreditava no poder
dos perfumes e, segundo
dizem, teria
afirmado certa vez: “Três coisas são importantes para mim na Terra: mulheres,
perfumes e orações.” Numa outra ocasião, teria dito: “O perfume é o alimento
que nutre meus pensamentos.”
• Um quilograma
de óleo essencial de jasmim requer para ser obtido cerca de oito milhões de
flores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário